17 de dezembro de 2012

Texto: Antiga Companheira

Numa tentativa de arrumar minhas bagunças, encontrei uma agenda antiga, já esquecida, uma hora muito amada, uma hora muito lida.

Olhando para sua capa colorida, lembrei da grande diferença que fez um dia. Essa agenda foi minha companheira e trazia consigo memórias, há muito vividas, que, por um tempo consideravelmente longo, fiz questão de não relembrar.


Agenda Colorida


Memórias de um passado pleno, feliz... Absurdamente feliz... Com outras pessoas, em outros lugares, outros valores.

Justamente por isso, jazia no fundo de uma gaveta abandonada, embaixo de papéis e escritas. Ficou de castigo por não se desapegar do passado, por insistir em lembrar de momentos que nunca voltariam. Meu coração machucado se juntou ao ego ferido, e juntos fizeram o papel de pais, exilando-a naquele lugar, tristes e relutantes. Sabendo que era o melhor para eles e para ela.

Mas no momento em que a tomei em mãos novamente, eles protestaram. Me causando um enorme rancor. Só se esqueceram que quem me guia frequentemente é a teimosia e que não tenho por hábito a obediência. Fiz questão de ler minha antiga companheira uma ultima vez. Devia isso a ela, a mim e as lembranças de outrora.

O coração sofreu. Pobrezinho. Se despedaçou inteiro. Juntando seus cacos, me disse: "Eu avisei! Pedi para não fazer isso. Não vê o quanto eu sofro?". O ego se juntou, enfurecido disse: "Sua estupida! Não disse? Onde está sua teimosia agora?" Em meio àquela fúria e tristeza, não conseguia responder, não conseguia pensar. Só me restava chorar.

Vendo meu sofrimento e confusão, o cérebro interferiu: "Chega vocês dois! Não vêem que era isso que precisavam para enterrar esse passado de uma vez por todas?"

- Sim sim - sussurrei, mais calma. - Precisamos botar um ponto final. Entender que durou o tempo exato que deveria durar, e que, apesar de tudo, valeu a pena cada um desses momentos.

- Tudo resolvido - disse meu cérebro novamente. - Agora faça o favor de se livrar disso, Ana! Não conseguirei acalma-los novamente. O coração se desmanchará de vez e o ego a abandonará, não terá mais seu apoio e vai acabar no fundo da gaveta com sua companheira.

Seguindo seu conselho, fechei aquela agenda, minha antiga companheira e a joguei no lixo.

- O desapego nem sempre é fácil - sussurrou o coração baixinho. - Eu sofro por ela também.

- Sim. Mas agora é bola pra frente. Passado enterrado, coração restaurado e ego contente.


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